Fora de Campo expõe fotografias de António Carrapato, José Miguel Soares, Pedro Vilhena, Rui Dias Monteiro, Sofia Berberan e Susana Paiva, num percurso pelas azinhagas do bairro dos Canaviais, em Évora, até dia 20 de fevereiro. Fora de Campo é uma produção de Malvada Associação Artística inserida no Revela-me, movimento artístico de ativação de territórios periféricos e esquecidos.

Percurso nas Azinhagas dos Canaviais – Rua das Cinco Cepas > Estrada da Chainha > Rua das Cinco Cepas > Rua da Palmeira > Patão > Estrada da Quinta das Corunheiras > Rua da Palmeira > Rua das Cinco Cepas.

A Malvada tem a sua residência nos Canaviais, o mais periférico bairro da cidade de Évora, uma cidade periférica no interior de um país periférico, que é um dos mais centralizados da Europa. Aquele território a céu aberto que Bruno Vieira Amaral introduz como o retrato do país real que “não pode ser levado à UNESCO para aprovação e saudação, não é fado, nem cante, nem chocalho, nem bonequinhos de Estremoz, não é praia, nem resorts de luxo na costa alentejana, nem hotéis de charme no interior ressequido”.

Numa primeira visita ao Antigo Hospital Psiquiátrico, em março de 2020, no dia em que foi anunciado o primeiro confinamento, a Malvada realizou um registo fotográfico que documenta o seu interior, o torna visível e serve o início de uma narrativa performativa que cruza a fotografia, a escrita e o teatro.

Em Revela-me, um movimento artístico de ativação de territórios periféricos e esquecidos, dirigido por Ana Luena e José Miguel Soares, pede-se aos artistas envolvidos no projeto que se impliquem, partilhando um segredo, descobrindo, manifestando-se, denunciando e tornando visível o que parece fora do alcance.

Revela-me constrói-se por camadas de experiências, em que processo criativo e apresentação se misturam num projeto de caráter transgénico.

Fora de Campo junta, durante uma semana, fotógrafos vindos de diferentes pontos do país, com linguagens e propostas distintas, numa residência imersiva nos Canaviais, uma freguesia nos limites do perímetro urbano, que já não é rural e ainda não é cidade, é periferia no sentido do que é vago e impreciso.

Um portão fechado a cadeado encerrou, durante mais de uma década um espaço desativado, é deste lugar que emerge todo o projeto e a instalação fotográfica que se expõe num percurso pelas azinhagas do bairro, que desde o confinamento começou a atrair muitos visitantes de outros pontos da cidade que encontram aqui um espaço de respiração e liberdade para as suas caminhadas.

Subitamente, nos últimos meses temos assistido a várias transformações neste território que é o centro de criação de Revela-me. Como artistas residentes nesta cidade e nesta freguesia a Malvada tem registado e partilhado com a equipa artística, a comunidade e o público, o estado de abandono, as idiossincrasias deste bairro e as inesperadas transformações ocorridas.

Em novembro de 2020, durante a primeira residência de criação, realizou uma segunda visita ao interior deste edifício, desde então parcialmente ocupado pela ARS Alentejo. No entanto, a sua ativação continua a servir propósitos de exclusão e de afastamento, mantendo-se como espaço interdito – Área Dedicada para Doentes Respiratórios COVID. Coincidentemente, a sucata depositada nas azinhagas, nos caminhos, junto a muros e nos ribeiros que ali permaneceram durante anos e meses tem sido recolhida nos últimos dias. Precisamente no primeiro dia da residência Fora de Campo foram retirados equipamentos obsoletos e amontoados na Antiga Escola Primária dos Canaviais, desde o seu encerramento. A Malvada acredita que estas movimentações estão ligadas a este projeto artístico, à sua comunicação e à força potenciadora inerente ao ato criativo.

Os fotógrafos que se juntam a nós nesta residência e com quem partilhamos o projeto, habitam com as suas imagens e o seu olhar estes caminhos, que com um novo confinamento à porta será espaço desejado de liberdade e de fruição de arte, num acontecimento que para além de refletir sobre a periferia e os seus limites, deseja fazer da periferia o centro.

A Malvada resume as notas apontadas nos encontros no pátio da Antiga Escola Primária dos Carnavais, durante a residência Fora de Campo: a abertura simbólica da instalação com um lançamento de imagens no ribeiro; a solidão desse mesmo ato; a natureza efémera da fotografia; as ações de desgaste sobre as imagens impressas; a fragilidade das imagens na natureza; a fotografia como território; o contraste e a convivência de elementos urbanos e rurais; os vestígios das pessoas nestes locais; o frente e o verso do percurso; a botânica como um lugar periférico; o património humano da periferia; imagens abraçadas em sobreiros; os lugares do (des)confinamento; os desvios dos caminhos como periferia; a imagem que fica até ao dia seguinte; uma nova imagem; uma instalação que se regenera e transforma ao longo da sua apresentação pública.

Produção: Malvada Associação Artística
Coprodução: Câmara Municipal de Évora
Apoio logístico: Junta de Freguesia de Canaviais
Apoio: República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes
Agradecimentos: Lúcia Caroço, Luís Garcia, Joana Subtil, Jonas José, Fernando Nunes, Flávio Santos, Nuno Figueiredo, Mauro Freira, Paula Arinto.

Biografias fotógrafos

António Carrapato (Reguengos de Monsaraz, 1966) Começa a sua carreira nos anos 90, a fotografar para os jornais portugueses, principalmente para o jornal Público no Alentejo. Em paralelo desenvolve um trabalho de autor. Participa no projeto da Estação Imagem onde é membro fundador 2009. Tem estado envolvido em várias iniciativas e eventos, como foi o caso do Foto Fest em Copenhaga 2013, exposição RISO na Fundação EDP Lisboa 2013, exposição Grupo de Évora na Pequena Galeria em Lisboa 2013. Fez a exposição Na? vejo, Fábrica Braço de Prata, Lisboa 2015, a exposição 1013 Anos, no Museu de Évora e na Galeria Módulo a exposição Encantamento 2016. Em Viana do Castelo a exposição Inauguro#54 2017; Claustrofonia no convento dos Remédios, Évora 2018. 27/27 exposição na praça do Sertório, Évora 2020. É no território rural do Alentejo e em contextos urbanos internacionais, que utiliza a sua capacidade de observação para criar um universo visual onde a relação entre o homem e a sua envolvente revelam subtis ironias ou absurdas coincidências.

José Miguel Soares (P. Delgada, 1977) Fotógrafo e Psicólogo. Estudou Psicologia na U-Lisboa e na U-Pádua e Fotografia no IE-Design em Roma. Residiu em Lisboa onde trabalhou em imagem e comunicac?a?o durante mais de uma de?cada. Atualmente reside em Évora. Foi membro fundador da revista Aula Magna e Diretor de Servic?os e Psicólogo da Associação Sol. Tem as suas fotografias publicadas em dezenas de revistas e publicac?o?es de grandes grupos editoriais a projetos independentes, em áreas que vão da fotografia de retrato a? arquitetura, de produc?ões de moda a fotoreportagem. Realiza vídeo e fotografia comercial para agências e marcas nacionais e internacionais. Desenvolve projetos de cariz autoral, premiados e nomeados em concursos como Jovens Criadores, Prémio Autores SPA, Society for News Design. Em 2018 funda a Malvada, onde assume a direc?a?o arti?stica com Ana Luena, com quem desenvolveu os projetos Por Portas Travessas e Quarto Escuro (2018), Às Portas da Cidade, Personas e Bonecas (2019).

Pedro Vilhena (Lisboa, 1960) Completou o curso de fotografia no Ar.Co onde passou a dar aulas de fotografia de 1982 a 1990. Fotógrafo profissional desde 1984. Estúdio em Lisboa (até 1995). Dedicou-se às áreas de fotografia de publicidade, produtos, Interiores, Decoração. Trabalhou regularmente para as revistas Máxima, Marie Claire e Casa & Decoração. Clientes: Sony; Lancôme; Eureste; Marconi. Fotografia para os livros: “Receitas para fazer Fortuna” de Filipa Vacondeus.”Na Pele do Homem” – Texto Editora (produtos cosméticos). A viver em Évora desde 1995 organiza regularmente workshops de Iniciação e avançados à fotografia e retoque digital em Évora. Fotografia de retrato, produtos, interiores, gastronomia. Clientes: Évora Hotel, Cartuxa; vinhos Ervideira, Quetzal, Quinta da Esperança, Pêra-Grave; Envy health & fitness Club; Every.Body; Óptica Havaneza; Olidal; Câmara Municipal de Évora.

Rui Dias Monteiro
 (Castelo Branco, Portugal, 1987) é artista visual, fotógrafo e poeta, a viver em Lisboa. Concluiu em 2008 o Curso Avançado de Fotografia e Projeto Individual no Ar.Co (bolseiro BES em 2006/2007); e em 2016 a Pós-Graduação em Discursos da Fotografia Contemporânea na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Recebeu em 2016 o Prémio BF16 – Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira. Em 2017 vai para São Paulo e participa no programa de residência artística da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian; e em 2019 é artista residente no Pivô Pesquisa em São Paulo, Brasil. Ainda em 2019, integra o Centro de Pesquisa Teatral (CPTzinho) dirigido por Antunes Filho no SESC Consolação. Entre outros, publicou os livros “Sob cada erva” (STET, 2014), “Fazer fogo à noite” (não edições, 2014), “Reunião de pedras” (não edições, 2018), e os mais recentes, “João José Maria Calhau” (edição de autor, 2020) e “Basta que um pássaro voe” (Terceira Pessoa, 2020).

Sofia Berberan (Lisboa, 1980). É licenciada em Filosofia pela FCSH/UNL e pós-graduada em Artes Cénicas. Tirou o curso de Fotografia Profissional no Instituto Português de Fotografia. Pertence ao coletivo Imagerie desde 2017 e ao Teatro GRIOT desde 2014. É fotógrafa de cena e desenvolve projetos no âmbito das possibilidades performáticas da Fotografia. Criou com os fotógrafos Magda Fernandes e José Domingos a exposição “Biblioteca das Imagens Não Vistas” (2018) e a instalação performática “A casa das belas adormecidas” (2019). Estagiou em fotografia de cena no Teatro da Garagem e fotografou espetáculos dos seguintes artistas e estruturas: Teatro GRIOT, Rogério de Carvalho, Bruno Bravo, Susana Borges, João Branco, Paulo Lage, Gio Lourenço, UMCOLETIVO, Zia Soares, Elmano Sancho, entre outros. Trabalhou para a Editora Difference onde fotografou várias capas de disco. Já expôs em Portugal, Cabo Verde e Reino Unido e as suas fotografias foram publicadas em vários jornais, revistas e livros.

Susana Paiva
 (Moçambique, em 1970) Reside e trabalha em Lisboa. Criadora, performer, editora e produtora de projetos e eventos na área das Artes Visuais. Exposição Individual “Corpo Volátil” no Centro Cutural de Belém, em Lisboa, Portugal; Exposição Individual nos “6ème Rencontre Internationale de la Photographie, em Ghar El Melh”, Tunísia; Exposição Individual “What remains – a invenção da memoria” no Mês da Fotografia do Barreiro, Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro, Portugal; Exposição Individual “Lugar de mim” na Casa da Escrita, em Coimbra, Portugal; Exposição individual “Unidade mínima” no Centro Interpretativo do tapete de Arraiolos , em Arraiolos, Portugal. Coordenação da Exposição de Artes Visuais “Aproximar-nos do Caos [com umas lentes que permitam ver melhor o que isso é] “, na Galeria ACERT, em Tondela, Portugal. Apresentação do projeto performativo “Anatomia de uma imagem [uma instalação habitada]” no âmbito do Festival CITEMOR 2019, Montemor-o-Velho, Portugal.

REVELA-ME
Movimento artístico de ativação de territórios periféricos e esquecidos
Criação e direção artística Ana Luena e José Miguel Soares; Fotografia e conceito José Miguel Soares; Texto original e encenação Ana Luena; Intérpretes Nuno Nolasco, Inês Pereira; Desenho de luz Pedro Correia; Música original Zé Peps; Design Joana Areal; Fotógrafos António Carrapato, Pedro Vilhena, Rui Dias Monteiro, Sofia Berberan, Susana Paiva; Oradores Afonso Cruz, Álvaro Domingues, Gabriela Moita; Produção Malvada Associação Artística; Coprodução Câmara Municipal de Évora, Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco; Parceiros Lendias d’Encantar (FITA – Festival Internacional do Alentejo), Teatro-Cine de Torres Vedras, Cães do Mar, Junta de Freguesia de Canaviais, Associação Grupo de Teatro luventuti Virtutis, Associação de Surdos de Évora.

Fonte: Direção Regional de Cultura do Alentejo

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