Diogo Alagador, investigador da Cátedra para a Biodiversidade Rui Nabeiro e membro do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED), da Universidade de Évora (UÉ) analisou de que forma a resolução temporal usada em planos de conservação com o propósito de identificação de conjuntos de áreas climaticamente resilientes, tem impacte quer nos locais identificados como de maior potencial adaptativo para as espécies, quer na estimação da eficácia das áreas protegidas já estabelecidas em promover a sobrevivência das espécies a longo prazo. O estudo foi recentemente publicado numa revista científica na área da conservação.

Com recurso a modelos de distribuição de espécies e a modelos de seleção otimizada de áreas a conservar, o estudo, que contou com a participação de Diogo Alagador, foi aplicado a uma região extensa no Noroeste de França, caracterizada por um mosaico de áreas com diferentes usos e intensidades produtivas, nomeadamente agricultura, floresta e pastos – paisagem Bocage.

Segundo avança este investigador, os resultados “demonstraram que as áreas de melhor qualidade para a resposta espacial de dez espécies de vertebrados localmente ameaçadas pelas alterações climáticas, mostraram-se largamente dissimilares quando geradas a partir de dados com resoluções temporais (ie. intervalos) de 30, 10 ou 1 ano”.

Foram o Sapo corredor, a Rã-europeia (Rte); Tritão-de-crista; Cobra de Esculápio; Morcego de Bechstein; Morcego-lanudo; Marrequinha comum; Açor; Mocho de orelhas e o Pica-pau cinzento as espécies estudadas no estudo, no qual, Diogo Alagador, destaca que, “as trajetórias adaptativas de cada espécie obtidas numa frequência anual, mostraram-se intrincadas, bem afastadas de uma presumível resposta geograficamente linear, implicitamente assumida nas abordagens feitas com 10 e 30 anos de intervalo”.  Da mesma forma, “a eficácia estimada das áreas protegidas da região na representação de cada espécie ao longo do tempo foi diferencial nas três resoluções temporais analisadas” sublinha.

Este estudo enfatiza assim a necessidade de se definirem à partida a combinação de resolução espacial e temporal que melhor se ajuste a fatores como a disponibilidade e qualidade de dados climáticos, “as características fisiográficas da paisagem, a capacidade dispersiva das espécies e, num aspeto prático, com o poder computacional disponível para levar a cabo as análises”. Desta escolha, assume o investigador da academia eborense, “dependerá a acuidade das soluções obtidas; das propostas a apresentar aos decisores e; das ações concretas de gestão a efetivar no terreno ao longo do tempo.”

Em último caso, da escolha das resoluções espácio-temporais a usar dependerá a eficácia dos planos de conservação e consequente a sobrevivência das espécies largamente ameaçadas, em particular, pelas alterações climáticas. Os efeitos das alterações climáticas sobre a biodiversidade, em particular sobre as espécies, são matéria de larga investigação. Grande parte das abordagens faz uso de modelos preditivos que, com base nas projeções climáticas para o futuro, estimam os locais climaticamente adequados (ou tolerados) por cada espécie.

Como a resposta das espécies às alterações climáticas passa, em grande medida, pela sua redistribuição espacial, na procura dos seus climas adequados, é de notar que o valor de proteção das áreas protegidas, tais como as concebemos hoje em dia – com fronteiras fixas – nomeadamente, para a adequada representatividade de cada espécie, poderá ser posto em causa. Assim, os planos de conservação a longo prazo, implicam o uso a séries de mapas que identifiquem a variação dos locais climaticamente adequados para cada espécie ao longo do tempo.

Como o processo de modelação climática com base em mapas de elevada resolução espacial (ie. quadrículas de área pequena) é extremamente intensivo e requer grande poder computacional, opta-se por trabalhar com menos mapas – ou seja, usando um menor número de períodos temporais (ie. baixa resolução), normalmente três ou quatro intervalados por 30 anos (como por exemplo, 1990, 2020, 2050 e 2080). Isto implica que os padrões de variação da adequabilidade climática para cada espécie nos intervalos longos de 30 anos são desconhecidos.

Fonte: Universidade de Évora

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