“Dias consecutivos com temperaturas acima de 40ºC podendo atingir os 46ºC nos locais mais quentes” é esta a previsão do estado do tempo no interior do Alentejo para os próximos dias, diz-nos Gonçalo Rodrigues, investigador do ICT, da Universidade de Évora.
De 7 a 9 de julho a presença de um anticiclone a Nordeste dos Açores, estendendo-se em crista até à Grã-Bretanha/Golfo da Biscaia induziu um fluxo de leste que transportou ar seco e muito quente. A 10 de Julho a quebra do anticiclone e o surgimento de uma depressão isolada próxima de Portugal Continental, levou a um ligeiro arrefecimento no litoral alentejano, mantendo-se, no entanto, a situação de tempo quente no interior.
Em termos de circulação atmosférica, explica Flávio Couto, também investigador do ICT, da academia eborense, “a presença de uma depressão nos níveis médios a oeste/sudoeste de Portugal continental a partir de dia 10, inibe a circulação típica de verão associada ao Anticiclone dos Açores e favorece os ventos de Sudeste/Este para o Alentejo na baixa atmosfera.” A persistência de temperaturas elevadas, continua o investigador, está relacionada com a semi-estacionaridade dessa depressão isolada sobre o Atlântico e próximo a Portugal continental. É expectável que esse padrão de circulação permaneça pelo menos até sexta-feira, o que favorecerá a continuação da onda de calor no interior do Alentejo. Esta conjugação de fatores leva a esta situação atípica, resultando na persistência de valores de temperatura muito elevada.
Mínimas tropicais, ou seja, temperaturas mínimas superiores a 20 graus, que ocorrem em alguns locais do Alentejo desde o dia 7 de julho, deverão generalizar-se a grande parte do Alentejo (interior) a partir desta terça-feira. Temperaturas extremas de dia, e superiores a 20ºC à noite, poderão levar a um contínuo aquecimento do interior das habitações, sendo este mais um fator de perigosidade para a saúde pública. Esta onda de calor apresenta contornos semelhantes à onda de calor histórica de 2003 (que causou um pico de mortalidade em Portugal Continental), faltando apenas conhecer a sua duração.
A circulação atual poderá ainda trazer associado o transporte de poeiras minerais do Norte de África a partir de hoje, terça-feira, nas regiões do Sul, estendendo-se gradualmente às restantes regiões do território ao longo da semana, refere Maria João Costa, investigadora no ICT e coordenadora do Grupo 1, Ciências de Atmosfera, Água e Clima. Embora não se esperem efeitos pronunciados a nível da degradação da qualidade do ar, uma vez que se prevê um transporte principalmente em altitude, aconselha-se a população a permanecer sempre que possível no interior das habitações, protegendo-se das condições extremas que se farão sentir nos próximos dias, acrescenta a investigadora.
Fonte: Nota de Imprensa / Universidade de Évora