Através da parceria com a Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central, a Rádio Telefonia do Alentejo contou em novembro com um programa sobre as doenças transmitidas por mosquitos.
Esta edição teve a participação das técnicas de Saúde Ambiental Ana Silva Marques e Márcia Marques e dos médicos internos de Formação Geral Fernando Costa e Henrique Rosado.
A conversa teve início com Henrique Rosado, ao explicar que “os mosquitos fazem parte dos ecossistemas e têm a sua importância do ponto de vista ecológico, desempenhando diversas funções”, e exemplificou que “são presas para aves, peixes e insetos; fonte primária de alimento para muitas espécies; ou polinizadores de plantas”.
Recordou ainda que “os mosquitos (mais propriamente as fêmeas) também se alimentam do sangue de diversos mamíferos, entre os quais os seres humanos”, reiterando que “isso é especialmente importante quando o mosquito está infetado, pois existe o risco de transmissão de doenças potencialmente graves como malária, dengue, febre do nilo ocidental, zika, chikungunya, febre amarela e encefalite japonesa”.
O médico interno sublinhou que, “no passado, estas doenças estavam presentes e limitadas à região tropical do Globo, pelo que Portugal estava protegido”, contrapondo que “a intensificação da circulação de pessoas e bens possibilitou que tanto os mosquitos, como as doenças por si transmitidas chegassem a outros locais do planeta, além do fenómeno das alterações climáticas também criar as condições para que os mosquitos se instalem e se mantenham nesses territórios”.
Por sua vez, Márcia Marques realçou que, “em Portugal, existem mosquitos autóctones, como os do género Culex, que pertencem à nossa fauna e que podem transmitir o vírus do nilo ocidental e da encefalite japonesa; e do género Anopheles, potencialmente transmissor da malária, presente em praticamente todo o território nacional, exceto ilhas, embora em baixo número”.
Acrescentou que, “relativamente às espécies vindas de outros territórios, as chamadas invasoras, encontra-se estabelecida no nosso país, especificamente na região autónoma da Madeira, desde 2005, a espécie de mosquito Aedes aegypti que foi responsável por um surto de dengue em 2012”.
A técnica de Saúde Ambiental disse ainda que, “em Portugal Continental, temos a presença de Aedes albopictus (que pode transmitir zika, chykungunya, febre amarela, dengue, entre outros) na zona de Penafiel, na região do Algarve, em Mértola e em Lisboa”.
Evidenciou também que, “com as condições climáticas atuais, estes mosquitos podem estabelecer-se em várias zonas do nosso país, aumentando em muito a probabilidade de transmissão dessas doenças”.
Já Ana Silva Marques, adiantou que “Portugal dispõe de uma Rede de Vigilância de Vectores, que resulta da colaboração entre instituições do Ministério da Saúde, que permite, quer a vigilância sazonal (entre maio e outubro), quer a vigilância anual, ao abrigo do Regulamento Sanitário Internacional”.
A técnica de Saúde Ambiental esclareceu também que “a vigilância inclui a recolha sistemática e contínua de dados, a notificação de casos confirmados ou o acompanhamento da distribuição, disseminação e gravidade dos casos, entre outros domínios”.
No que diz respeito às medidas que a população, a nível individual e coletivo, pode adotar, Fernando Costa avançou que, “relativamente à multiplicação dos mosquitos, temos de ter em atenção que para a deposição dos ovos, a fêmea procura locais onde a água está parada, os chamados criadouros artificiais”, alertando para “a importância de trocar frequentemente a água dos bebedouros para animais, guardar garrafas e outros recipientes com a cabeça para baixo e colocar areia nos pratos onde se colocam os vasos de plantas”.
Quanto às picadas, o médico interno focou que “há que ter em atenção os períodos de maior atividade dos mosquitos, isto é, o início da manhã e o final da tarde, sendo recomendado o uso de roupas compridas e de repelente com a substância DEET ou outros repelentes autorizados”.
Lembrou que “estas recomendações são ainda mais importantes quando falamos de viagens internacionais, em especial para os países tropicais, onde algumas das doenças transmitidas por mosquitos são endémicas”, aconselhando “a recorrer a uma consulta do viajante”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal