“Vigilância Epidemiológica” foi a temática debatida em maio na Rádio Telefonia do Alentejo durante o programa feito em parceria com a Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central.
A conversa foi conduzida por Vera Leal Pessoa, médica especialista em Saúde Pública, contando com as intervenções de Juan Rachadell, também médico especialista em Saúde Pública, e de Diogo Vale, médico interno de Formação Geral.
Um dos pontos salientados por Juan Rachadell foi que “a vigilância epidemiológica é a recolha, análise e interpretação sistemática de dados de saúde”, salientando que “ajuda-nos a detetar, monitorizar e responder a surtos de doenças”.
Reforçou que, “essencialmente, permite-nos acompanhar a propagação de doenças e tomar medidas para prevenir a sua transmissão” e exemplificou que “monitorizamos doenças como a gripe, sarampo e até novos vírus que possam surgir, para podermos agir rapidamente e proteger a população”, brincando que, “na prática, é como se fossemos detetives da doença”.
Por sua vez, Diogo Vale realçou que “a vigilância epidemiológica é importante porque nos ajuda a identificar surtos precocemente, entender as suas causas e implementar medidas de controlo para proteger a saúde pública”.
Como exemplo, focou que, “durante a pandemia de Covid-19, a vigilância foi essencial para identificar focos, compreender como o vírus se espalhava e informar respostas de saúde pública, como confinamentos e campanhas de vacinação”, lembrando que, “sem esses dados, a nossa resposta teria sido muito menos eficaz”.
Durante o programa, Juan Rachadell explicou também como os dados de vigilância são usados para tomar decisões, apontando o caso da gripe sazonal. “Todos os anos, coletamos dados sobre casos de gripe e as estirpes (os tipos de vírus) circulantes na comunidade”, referiu, acrescentando que “essas informações ajudam-nos a prever quais as estirpes ou variantes de gripe que serão mais comuns e orientam a formulação da vacina anual contra a gripe”.
A par disso, o médico especialista em Saúde Pública adiantou que “também nos informa sobre a gravidade da temporada de gripe, permitindo que as instalações de saúde se preparem e aloquem recursos de forma eficaz”.
Revelou ainda que, “em Portugal, as atividades de vigilância epidemiológica acontecem no âmbito do SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica)”, esclarecendo que “trata-se de um sistema que foi montado em 2009 especificamente para esse efeito e que organiza o fluxo de informação e as responsabilidades de cada profissional, equipa ou instituição envolvida no processo”.
Mais uma vez, Juan Rachadell recorreu a um exemplo prático. “Vamos imaginar que uma pessoa fica doente, tem tosse, febre e um quadro arrastado que a leva finalmente a procurar ajuda médica”, disse.
Nessa mesma situação hipotética, “no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), essa pessoa é diagnosticada com tuberculose e tanto o médico que faz o diagnóstico, como o laboratório do HESE vão enviar essa informação para a USP”, sublinhou, evidenciando que “a nossa equipa da USP vai então iniciar uma investigação”.
Reiterou ainda que, “na prática, o que fazemos é contactar a pessoa e tentar compreender de que forma contraiu a doença e se haverá risco de ter propagado a doença a outra pessoa”.
Outro ponto importante abordado nesta conversa foi a importância da participação da população na prevenção e promoção da saúde.
Segundo estes médicos, esse contributo concretiza-se “através da adoção de boas práticas, como a colaboração nos inquéritos epidemiológicos quando a população é contactada pelos profissionais dos serviços de saúde pública locais, o recurso ao seu médico assistente aquando da deteção de sintomas suspeitos ou a adesão às campanhas de vacinação para prevenir doenças por ela evitáveis”.
Além disso, outras recomendações passam pela “boa higiene, como lavar as mãos regularmente; ter práticas sexuais seguras ou cumprir recomendações dos médicos, como a evicção de contacto próximo com terceiros quando existe suspeita de doença contagiosa”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS