As infeções sexualmente transmissíveis (IST) e a falta de consentimento nos relacionamentos sexuais foram os temas principais do programa de saúde pública da Rádio Telefonia do Alentejo (RTA), emitido a 16 de abril.

Feito em parceria com a Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central, contou com a participação de Beatriz de Aranha, médica interna em Saúde Pública (SP), Rita Cambóias e Dailine Delgado, ambas médicas internas em Formação Geral (FG).

Sexualidade em segurança foi assim o mote para o programa, que começou com a explicação de Rita Cambóias sobre as IST. “Passam de pessoa para pessoa durante as relações sexuais e são provocadas por bactérias, vírus e parasitas que estão no sangue, sémen e outros líquidos corporais ou à superfície, na pele e em mucosas da zona genital”, disse.

Recordou ainda que “as mais frequentes são a clamídia, a gonorreia, a sífilis, o herpes genital, o HPV (Vírus do Papiloma Humano) e o VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana)”, lembrando que “as hepatites B e C também podem ter transmissão sexual”.

A médica interna em FG esclareceu que “qualquer pessoa sexualmente ativa pode ser infetada por uma ou mais IST”, reiterando que “uma pessoa pode contrair uma IST em qualquer fase do ciclo de vida, mesmo que só tenha tido um parceiro sexual”.

De acordo com Dailine Delgado, “uma boa parte das IST são assintomáticas e, às vezes, passam-se meses ou anos sem sintomas”, frisando que “uma pessoa pode ter uma IST, não ter sintomas e mesmo assim transmitir a infeção”.

Quantos aos sintomas, referiu que podem ser “corrimento anormal da vagina, pénis ou ânus; ter ardor ou dor ao urinar; feridas, bolhas ou outras lesões na área genital ou anal; e comichão ou irritação nos genitais, havendo, por vezes, queixas de dores ao fundo da barriga ou durante a penetração vaginal”.

Por sua vez, Rita Cambóias acrescentou que “caso uma pessoa seja infetada com uma IST deve procurar apoio médico, realizar as análises recomendadas e completar os tratamentos indicados”, alertando que “é importante informar os parceiros ou as parceiras sexuais e evitar as relações sexuais enquanto estiver a ser feito o tratamento”.

As formas de ter sexo mais seguro também foram abordadas nesta conversa. Segundo Dailine Delgado, “no caso de existirem parceiros sexuais anteriores, devem ser realizadas análises de rastreio das IST antes de iniciar qualquer contacto sexual”, relembrando que, “para além disso, temos o preservativo, que é o único método contracetivo que nos protege dessas mesmas infeções”.

Focou ainda que “recomendamos a toma das vacinas disponíveis para proteção de algumas IST, como o HPV, as Hepatites ou a Monkeypox”.

O modo como a sexualidade pode ser vivida numa idade mais avançada também esteve em destaque no programa. Rita Cambóias apontou que “viver a sexualidade na idade idosa, em muitos casos, é essencial para o aumento da satisfação no processo de envelhecimento”.

Salientou que “tem que haver uma adaptação da pessoa para a subsistência das suas próprias necessidades, sempre tendo em conta as suas limitações”, exemplificando que “a valorização de momentos de intimidade, como abraços, massagens, carícias ou até a masturbação, pode e deve acontecer, em detrimento das relações sexuais que se foquem unicamente na penetração”.

A médica interna em FG alertou ainda que “a população idosa tem menos informação disponível pelos profissionais de saúde, logo testam-se e protegem-se menos, levando, cada vez mais, ao aumento da incidência de infeções sexualmente transmissíveis”.

Nesse sentido, considerou que “a solução seria apostar na prevenção destas infeções com uma comunicação aberta e clara com profissionais de saúde”.

A questão do consentimento nos relacionamentos sexuais foi outro tópico bastante falado. Beatriz de Aranha sustentou que “o consentimento no sexo é sinónimo de respeito mútuo e implica confiança”, reforçando que “é reversível e específico”.

Sublinhou que “quando há situações onde ele não é claro nem explícito, deve-se assumir sempre que não existe”.

Na sua opinião, “ao fazermos isto, não só asseguramos o bem-estar da pessoa com quem estamos, mas também o nosso próprio bem-estar, de uma sexualidade saudável vivida em segurança”.

A este respeito, Dailine Delgado especificou que, “para um consentimento pleno, ambas as partes têm de ser 100 por cento honestas sobre o seu estado de saúde relativo às IST; ou não se pode alterar comportamentos durante o ato sexual, sem o consentimento da pessoa com quem estamos”.

Como exemplos, destacou que “remover um preservativo durante o sexo, tirar fotografias ou gravar vídeos são formas de desrespeitar o consentimento”.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS