Estudo social conduzido por Ângela Malveiro, aluna de doutoramento da Universidade de Évora (UÉ), procura analisar o papel das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e refletir mais aprofundadamente acerca do seu impacto no apoio aos homens vítimas de violência.

A problemática da violência doméstica, que tem ocupado um espaço cada vez maior nos órgãos de comunicação social, demonstra uma tendência de exclusão no que concerne à violência exercida sobre os homens dentro do agregado familiar. Este fato não significa, contudo, a ausência de ocorrências. Reflete apenas a predominância deste fenómeno no género oposto e revela uma grande carência de análise por parte da academia, dos media e da sociedade em geral, no que toca à violência doméstica contra o homem.

Embora não seja uma problemática recente, a violência doméstica exercida contra o homem cônjuge, tem apresentado um número crescente de vítimas e de queixas formais, fruto de um novo contexto social marcado por reestruturações ocorrida nas estruturas familiares, mudanças no papel da mulher ou por uma maior precaridade laboral.

Em 2019, a APAV contabilizou a morte de sete homens vítima de violência doméstica e registou 2066 denúncias de vítimas masculinas, face a 1576 no ano anterior. Este aumento, que continua a ser pouco expressivo, se comparado com as 11676 denúncias por parte mulheres, continua a não espelhar a realidade, visto que, seja por falta de denúncia, seja pelo medo, pela vergonha ou pelo tabu, apenas 10% dos homens vítimas apresenta denúncia formal, contra 30% no caso das mulheres.

No âmbito da sua tese de Doutoramento em Sociologia da Universidade de Évora (UÉ), Ângela Malveiro, propôs-se, sob orientação de Carlos Alberto da Silva, Professor Catedrático do Departamento de Sociologia, a realizar um estudo sociológico acerca deste fenómeno social com destaque emergente.

Com base na sociologia intervencionista, que procura colmatar a insuficiência de laços entre pesquisa e ação, Ângela Malveiro estuda, de modo interventivo, os projetos, os contextos e os diversos atores como forma de produzir conhecimento científico acerca deste fenómeno e de mobilizar para a ação através de novas ferramentas de gestão e de conhecimento útil.

O objetivo desta investigação e do seu projeto de intervenção passa por compreender sociologicamente o fenómeno e dar a conhecer as respostas existentes por parte das IPSS, do Estado e da sociedade face a esta problemática. Porém, o seu principal objetivo é identificar de que forma se podem aperfeiçoar as políticas públicas e traçar caminhos sustentáveis para o combate e prevenção das desigualdades de atuação existentes.

Através de um estudo exploratório aprofundado sobre o projeto da casa-abrigo masculina, Ângela Malveiro entrevistou uma amostra de sete intervenientes (internos e externos) com papel de destaque na IPSS. Com base em questões que abordavam o enquadramento do projeto casa-abrigo, o sistema de ação concreto, a qualidade e temas estratégicos de intervenção e a relação entre os atores-estratégicos, o inquérito aplicado procurou aferir as principais tendências verificadas nestes parâmetros e compreender de que forma a resposta das IPSS é condicionada ou potenciada pela gestão feita, pelas parcerias existentes e pelo envolvimento dos vários elementos integrantes do projeto

Apesar de reconhecer o papel determinante das IPSS no desenvolvimento da ação e do bem-estar social desta minoria, a autora do estudo frisa a inexistência de resposta eficaz às reais necessidades da população. Um dos principais desafios apontados é a desigualdade nos recursos e no tratamento que é dado aos homens e mulheres vítimas de violência doméstica. O número reduzido de iniciativas bem a como a parca existência de divulgação orientada para o homem dificultam a qualidade do desempenho das IPSS e a sua eficácia no apoio à vítima masculina de violência.

Nos casos estudados verificou-se a não só a necessidade de modernizar as infraestruturas e os serviços de apoio aos utentes, como também a urgência em qualificar a equipa técnica e contratar recursos humanos especializado nas áreas de violência doméstica no caso masculino. Também em termos de autonomia financeira se verifica a ausência de parcerias privadas e de investimento estatal adequado às carências deste tipo de projeto vocacionado para uma minoria considerada pouco lucrativa. A grande carga burocrática e a forte dependência de subsídios públicos, aliadas à quase inexistência de cooperação e parcerias entre as IPSS e o sector privado, ditam, na maioria dos casos, a incapacidade de resposta e, consequentemente, o encerramento deste tipo de projetos sociais.

Além de refletir sobre os novos desafios referentes ao complexo tema da violência doméstica contra homens, Ângela Malveiro conclui e salienta que, mais importante que a produção de conhecimento sociológico desta temática, é urgente aplicar este saber adquirido na criação de ferramentas e estratégias geradoras de mudança e alertar para a necessidade de investimento, por parte do Estado e das Instituições, em projetos que consolidem as políticas sociais de atendimento e apoio ao homem vítima de violência doméstica.

Atualmente Ângela Branco Malveiro é membro colaborador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais NOVA.UÉvora e Diretora Executiva António Silva Leal, uma Instituição de Solidariedade Social sem fins lucrativos que atua ao nível da ação social nas áreas de proteção da infância, juventude, adultos e idosos em situação de risco ou de desintegração e exclusão social, população deficiente e famílias em situação vulnerável.

Fonte: Universidade de Évora

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, introduza o seu comentário!
Please enter your name here