De vez em quando, ouvimos notícias sobre o aparecimento de casos de sarampo em Portugal. É nesses momentos que ativamos o nosso estado de alerta e nos lembramos desta doença.

Foi precisamente sobre sarampo que falámos em março no programa da Rádio Telefonia do Alentejo, feito em parceria entre a Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central. A temática foi debatida com Vera Leal Pessoa, médica especialista em Saúde Pública.

Na sua opinião, “em Portugal, devemos estar sempre preocupados com o sarampo, sobretudo, porque estando o sarampo eliminado no território nacional um único caso constitui um sinal de alerta para as autoridades de saúde”.

Recordou ainda que “a Organização Mundial de Saúde emitiu o Certificado da Eliminação do Sarampo em Portugal, em 2017”, salientando que, “desde essa data, foram ocorrendo alguns surtos autolimitados da doença em Portugal, sobretudo originados em casos importados”.

Nesta conversa, Vera Leal Pessoa explicou que “o sarampo é uma doença infecciosa provocada por um vírus”, adiantando que “é uma doença de notificação obrigatória em Portugal, especificamente, no Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica”.

Referiu também que “o vírus do sarampo é transmitido por contacto direto, pessoa-a-pessoa, através de gotículas infecciosas ou por propagação no ar quando a pessoa infetada tosse ou espirra”.

Segundo a médica especialista em Saúde Pública, “os doentes são considerados contagiosos desde quatro dias antes ou até quatro dias após o aparecimento da erupção cutânea, sendo que o período de infecciosidade pode ser mais prolongado em doentes imunocomprometidos, em crianças com idade inferior a 12 meses e também em grávidas”.

Quanto aos principais sinais aos quais devemos ficar atentos, destacou que “os sintomas de sarampo aparecem geralmente entre dez a 12 dias depois da pessoa ser infetada, podendo o período de incubação variar entre os sete e os 21 dias”.

De acordo com Vera Leal Pessoa, “os sinais e sintomas do sarampo, começam, habitualmente, com febre e mal-estar geral, seguido de rinite / rinorreia (portanto, corrimento nasal), conjuntivite e tosse”.

Acrescentou que, “de seguida, e nalgumas situações, cerca de um a dois dias antes do aparecimento do exantema maculopapular, podem surgir pontos brancos no interior da bochecha, as chamadas manchas de koplik, que são patognomónicas da doença”.

A mesma médica especificou que “o aparecimento do exantema maculopapular / erupção cutânea tem uma progressão muito característica, céfalo-caudal, ou seja, da cabeça para o tronco e de seguida para os membros inferiores”, apontando que “vai desaparecendo progressivamente em quatro a cinco dias”.

Em relação ao que fazer quando há suspeitas de infeção, alertou que “se uma pessoa tiver sintomas sugestivos de sarampo deverá, em primeiro lugar, evitar o contacto com outras pessoas para prevenir a transmissão da doença, e, de seguida, deverá contactar o SNS 24, sendo muito importante a sua colaboração na investigação clínica, laboratorial e epidemiológica”.

Vera Leal Pessoa evidenciou também que “o diagnóstico de sarampo deverá ser confirmado laboratorialmente no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, sendo que a pessoa com sinais e sintomas suspeitos será sujeita à colheita de produtos biológicos (de sangue, urina e secreções orais)”.

Frisou ainda que “a maioria das pessoas recupera apenas com tratamento sintomático”, sublinhando, contudo, que, “apesar de os antibióticos não serem eficazes contra o vírus do sarampo, poderá haver a necessidade de serem prescritos para tratar as complicações da doença, como pneumonia e otite, se estas vierem a ocorrer”.

A mesma médica lembrou ainda que “o sarampo é uma das doenças infecciosas mais contagiosas”, frisando que “habitualmente é benigna, mas, em alguns casos, nomeadamente em pessoas não vacinadas, pode provocar doença grave ou ser mesmo fatal, provocando o óbito”.

Desta forma, reforçou que “a vacinação constitui a forma mais eficaz de proteção contra a doença”, avançando que, “no nosso país, a vacina contra o sarampo faz parte do Programa Nacional de Vacinação desde 1973/74, sendo gratuita e estando disponível para todas as pessoas presentes em Portugal”.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS