Dias 25 e 26 de outubro na Biblioteca Municipal de Arraiolos
É o próprio Lobo Antunes que diz: “Não consigo conceber uma história onde as personagens não tenham carne”. Por isso é que as suas criaturas romanescas se encarnam tão naturalmente sobre um palco. Hoje, para falar da Revolução quarenta anos depois e na situação dramática em que Portugal se encontra, pareceu-me imperativo convocar a linguagem e as imagens interiores deste imenso escritor, sabemos que apenas apoiando-nos em poetas rebeldes podemos dar conta dum mundo que mete medo. António Lobo Antunes, ao dirigir o seu olhar para o passado, recusa-se a contribuir para a edificação duma lenda dourada do 25 de Abril. As personagens que cria nos romances que colocam a Revolução como tela de fundo não são nenhuns heróis, mas pessoas comuns, cheias de contradições, que levam uma vida anónima nas margens dos acontecimentos históricos. O espectáculo propõe os relatos cruzados de diferentes personagens: um operário carregador de mudanças, um empregado de escritório militante maoista, uma camponesa explorada numa Quinta, uma burguesa caridosa e um dono de empresas. Cada um recorda o seu 25 de Abril e conta o que sucedeu com ele. Desta confrontação nascem, por certo, perguntas inevitáveis com o andar do tempo e à luz da fervura que sacode o país atualmente.
Pierre-Étienne Heymann (2014)
“Não podemos deixar fechar as portas que Abril abriu”
Como é sabido, o projecto teatral criado em Évora em Janeiro de 1975 é, naturalmente, filho legítimo da revolução portuguesa. Daí que, quando o Ministério da Cultura nos lançou o desafio para integrar a programação das celebrações dos cinquenta anos do 25 de Abril, surgiu de imediato a ideia de voltar, mais uma vez, aos textos de António Lobo Antunes. Estes tinham resultado já num primeiro espectáculo em 2004 e numa segunda abordagem, em 2014, numa parceria do Cendrev com a ACTA – Companhia de Teatro do Algarve, ambos os projectos com dramaturgia e direção do nosso amigo Pierre-Étienne Heymann – homem de teatro, profundamente conhecedor da obra deste autor que se debruçou sobre a revolução portuguesa em várias das suas obras. Convocámos este painel de personagens, genialmente desenhados pela poética e perspicácia de Lobo Antunes, para confrontar o público com um conjunto de olhares e inquietações sobre esses acontecimentos que transformaram profundamente a vida do povo português. Com a Revolução de Abril, não foi conquistada apenas a liberdade e a democracia política, criaram-se também condições para notáveis avanços civilizacionais que hoje estão a ser profundamente delapidados. Sendo o teatro um espaço privilegiado de encontro e reflexão dos homens, este acontecimento maior da nossa História não podia deixar de constituir matéria do nosso trabalho.
Cendrev (2024)
Teatro e Revolução
A Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril dirigiu a dez companhias de teatro históricas um convite para apresentarem uma criação artística ou reposição que contribua para a consciência pública do papel que o teatro desempenhou na transição democrática.
Foram selecionadas companhias de teatro com atividade no período da Revolução e que nasceram ou se consolidaram nesse período: Companhia de Teatro de Almada; A Barraca; O Bando; Centro Dramático de Évora; Comuna – Teatro de Pesquisa; Novo Grupo de Teatro – Teatro Aberto; Seiva Trupe – Teatro Vivo; Teatro de Animação de Setúbal; Teatro Experimental de Cascais; e Teatro Experimental do Porto.
Os projetos foram avaliados pela Direção-Geral das Artes (DGARTES) e serão executados até 2025.
EXPOSIÇÃO – “LIBERDADE! LIBERDADE!
A Revolução no Teatro”
Inauguração dia 25 às 18h30
O espetáculo é ainda acompanhado da exposição itinerante “LIBERDADE! LIBERDADE! A Revolução no Teatro”, integrada nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
«Liberdade! Liberdade! A Revolução no Teatro» é uma exposição itinerante sobre o papel da arte teatral na transição entre regimes. Será inaugurada no dia da estreia de AUTOS DA REVOLUÇÃO, na Biblioteca Municipal de Arraiolos, às 18h30, podendo pode ser visitada até dia 31 de outubro. A entrada é livre.
A exposição, que irá circular pelo país até dezembro de 2025 e irá acompanhar algumas das apresentações deste espetáculo do CENDREV em várias cidades, tem curadoria de Nuno Costa Moura, sendo organizada pelo Museu Nacional do Teatro e da Dança com o apoio da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 Abril.
Fonte: Nota de Imprensa / Centro Dramático de Évora (CENDREV)
Fotos oficiais do emissário